segunda-feira, 25 de maio de 2009

Afinal...quem tem medo do lobo mau ?!


Recentemente foi levantada por Brenman, na sua tese sobre a relação das crianças com as histórias infantis, uma questão que tem gerado alguma polémica. O autor defende que é bom que as histórias contenham personagens maus e violentos, tipo lobo mau, bruxas, etc, pois as crianças precisam aprender a lidar com e a vivenciar essas emoções. Eu concordo.

O que a meu ver merece alguma reflexão é a polémica que isto gerou e que reflecte uma espécie de tendência crescente para educar as crianças de forma asséptica, a qual por sua vez parece corresponder a uma cada vez maior preocupação parental em expor os filhos a algo que sempre fez e sempre fará parte da natureza humana, como é o caso da agressividade e da violência.

Ora porque será que os pais andam tão preocupados com a violência e tão envolvidos em estratégias educativas para a neutralizar ? Sentir-se-ão eles próprios pouco capazes de lidar com esses sentimentos?... O resto correrá por conta dos mecanismos de identificação projectiva, visto que a forma como os pais intuem os filhos depende das partes de si próprios sobre eles projectadas.

Desta forma, o preocupante não é a violência presente nos contos infantis mas a violência latente presente no interior de cada mãe ou pai excessivamente preocupado com a violência. Pois dos progenitores a criança não pode desviar os sentidos…

Assim, preocupante para mim é a interiorização silenciosa que a criança é forçada a fazer da violência contida dos pais e que vai constituir as bases de identificação de que tanto precisa para construir a sua identidade.

Muito mais pacifica em termos desenvolvimentais, por paradoxal que possa parecer, é a violência mais turbulenta, mas sobretudo visível, que permite à criança jogar os seus conflitos, fazer à vez de vitima e de carrasco, identificar-se a uns e/ou a outros, encenando movimentos de aproximação e de afastamento segundo os afectos nela mobilizados.

Claro que se nos colocam muitas questões relacionadas com este tema da violência presente nas referencias culturais, sobretudo as que dizem respeito ao simbólico e à metáfora e à forma como a sociedade de hoje os vive e os transmite à criança, mas isso é tema de outra discussão.

2 comentários:

  1. Olá Elsa,
    Julgo que a importância que damos ao assunto é que irá prevalecer na cabeça da criança, no entanto qualquer que seja o tipo de violência deve ser punida. Neste momento encontro pais cada vez mais frágeis, que dão tudo o que podem (e não podem) aos filhos para estes não os chatearem muito, minimizando e desculpando os actos dos filhos. Pessoalmente "educar" é o mais dificil com que me deparei até hoje...

    ResponderEliminar
  2. É verdade Sandra. A falta de autoridade dos pais resulta em graves consequências na personalidade das crianças. Crescem com o sentimento que podem tudo, e quando adultas geralmente são afectivamente descontroladas tendo pouco respeito pelas regras da vida em sociedade e pelos outros.

    ResponderEliminar